Para a medicina chinesa
os alimentos atuam como poderosas fontes de energia que ajudam a harmonizar as
emoções
Sabe quando você vê um limão e sente vontade de tomar uma limonada
fresquinha? Mais que um simples desejo, isso pode ser sinal de que a energia do
seu fígado está em desequilíbrio e precisa do sabor azedo para se recompor. Um
tomate vermelho e suculento lhe dá água na boca? É o coração solicitando um
reforço de energia. Até aquela vontade incontrolável de devorar um docinho pode
ter uma razão fisiológica: baço e pâncreas estão pedindo socorro.
Isso
porque, de acordo com a medicina chinesa, a harmonia dos órgãos depende da
combinação dos cinco sabores: azedo, amargo, doce, picante e salgado. Esses
órgãos, por sua vez, são regidos por centros energéticos relacionados cada qual
a um elemento da natureza: rins, à água; fígado, à madeira; coração, ao fogo;
baço e pâncreas, à terra; e pulmão, ao metal.
A falta ou o excesso de alimentos
com tais características resulta em doenças e desequilíbrio emocional. "Os
alimentos dão aos órgãos a energia necessária para desempenhar suas
funções", explica Ysao Yamamura, chefe do setor de medicina chinesa da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e autor de Alimentos - Aspectos
Energéticos (ed. Triom). Fazem isso não só pelos nutrientes, largamente
conhecidos da medicina ocidental, mas pela carga energética presente nas cores
e sabores."Esses dois aspectos desencadeiam imagens mentais que refletem
nas emoções", afirma o acupunturista de São Paulo Jou Eel Jia, também
professor de medicina tradicional chinesa da Unifesp.
É
fácil saber quando há desequilíbrio: o corpo "pede" os alimentos que
o restauram. "O ideal é a própria pessoa comprar sua cesta básica",
diz o doutor Ysao. Para facilitar a tarefa, confira os preceitos da dieta
chinesa para manter-se em harmonia.
O pilar da nutrição chinesa
elemento
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órgão
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sabor
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cor
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madeira
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fígado
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azedo
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verde e azul
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fogo
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coração
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amargo
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vermelho
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terra
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baço / pâncreas
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doce
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amarelo
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água
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rins
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salgado
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escuros
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metal
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pulmões
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picante
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branco
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Madeira
Este elemento representa o crescimento, o movimento, o florescimento e a
síntese. Por isso, tem correspondência com o fígado, o órgão que controla a
circulação da energia vital e contribui para o bom funcionamento de todo o
organismo, além de favorecer o equilíbrio dos sentimentos e das emoções.
O que o desequilíbrio provoca: quando a energia do
fígado está enfraquecida, afloram sentimentos como indecisão e medo sem motivo
aparente. Dificuldade de concentração, sonolência, irregularidade nos ciclos
menstruais, fragilidade das articulações e unhas quebradiças são outros
sintomas dessa deficiência. Já o excesso de energia causa problemas como
irritabilidade, nervosismo, agressividade e raiva.
Como equilibrar o fígado: deve-se ingerir alimentos de cor
verde ou azulada, e também os de sabores ácidos ou azedos.
vegetais: alho-porro, arroz, cebola, cana-de-açúcar,
canela, coentro, cogumelo shitake, salsa, feno grego, gergelim, girassol,
repolho, valeriana, verbena
frutos: lichia
fontes animais: camarão, caranguejo, carpa, ostra, moela de
galinha, rã.
Fogo
Como o nome sugere, o fogo é o elemento que representa os movimentos naturais
caracterizados pelo calor, ascensão, desenvolvimento, expansão e atividade. Em
nosso corpo, ele corresponde ao coração, cuja principal função energética está
relacionada à atividade mental e à habilidade da fala.
O que o desequilíbrio provoca: quando o coração não
recebe energia suficiente, o resultado é um quadro de letargia e introversão
ou, ao contrário, uma alegria exagerada. Os sintomas físicos são: respiração
curta, transpiração abundante, membros superiores frios e sem forças, fraqueza
geral e rosto pálido e sem brilho. Se, por outro lado, há excesso de energia, a
pessoa pode se sentir irrequieta e ansiosa, apresentar comportamentos confusos
e irracionais, como rir ou chorar sem motivo aparente, além de ficar mais
sujeita a palpitações, gagueira e pigarros.
Como equilibrar o coração: abuse de alimentos de coloração
vermelha e os de sabor amargo.
vegetais: abóbora-moranga, café, canela, grão de soja,
pimenta, trigo, cebolinha e chás
frutos: melancia, caqui, melão
fontes animais: camarão, carneiro,
leite de vaca.
Terra
Na natureza, a terra representa os fenômenos relacionados às transformações
que, no organismo humano, ficam a cargo do baço e do pâncreas. Esses órgãos
regulam o transporte dos nutrientes dos alimentos e os transformam na energia
necessária para nos manter em atividade.
O que o desequilíbrio provoca: a deficiência de
energia no baço e no pâncreas causa falhas de memória e esgotamento mental. Em
casos extremos, pode levar ao emagrecimento e também à anorexia. O excesso de
energia nesses órgãos, por sua vez, traz lentidão de raciocínio, falta de
objetividade e idéias confusas. Outros sintomas são lábios ressecados e
rachados, gengivas sensíveis, náuseas e azia.
Como equilibrar o baço e o pâncreas: o equilíbrio da
energia nesses órgãos é favorecido pelos alimentos de cor amarela e os de sabor
doce
vegetais: algas, alho, abóbora-moranga, arroz, amendoim,
batata-doce, trigo, batatinha, berinjela, cebola, camomila, cana-de-açúcar,
cascas de canela, coentro, cenoura, ervilha, espinafre, feijão preto, gengibre,
manjericão, pepino, pimenta, pimentão, queijo de soja (tofu), tomate
frutos: banana, figo, maçã, uva, melão, tangerina, cascas de
laranja
fontes animais: cação, carpa, camarão, faisão, frango, ovo
de pata.
Água
De acordo com a filosofia chinesa, a água representa fenômenos da natureza que
têm como características básicas a retração, a profundidade, o declínio e a
eliminação. Por analogia, está ligada aos rins, que são órgãos que governam o
crescimento, a função reprodutiva, os ossos e os líquidos de nosso corpo.
O que o desequilíbrio provoca: a falta de energia
nos rins causa desânimo, medo, desmotivação e insegurança. Os sintomas físicos
são: cansaço excessivo, cabelos sem vida e quebradiços, dentes e ossos
enfraquecidos, infertilidade masculina, queda na libido e urina clara e
abundante. Já o excesso de energia nesses órgãos pode provocar comportamentos
autoritários, sensação de calor (especialmente nos pés) e urina quente e
escurecida.
Como equilibrar os rins: tanto quem sofre de falta como de
excesso de energia nesses órgãos precisa ingerir alimentos de cor preta ou
escuros e os de sabor salgado
vegetais: algas, cebola, alho-porro, arroz, trigo,
amendoim, bardana, cevada, batata-doce, cebolinha, cogumelo shitake, erva-doce,
feijão preto, gergelim, girassol, nabo, pepino, salsa
frutos: castanha, lichia, nozes, uva
fontes animais: camarão, carpa, carneiro, fígado de galinha.
Metal
O metal simboliza os processos de purificação, seleção, análise e limpeza. São
essas também as funções energéticas do pulmão. Ele comanda a circulação da
energia pelos demais órgãos do corpo, além de fortalecer as defesas do organismo
contra agressões internas e externas.
O que o desequilíbrio provoca: a deficiência de
energia no pulmão provoca tristeza e apatia, o que leva à queda de
sensibilidade e à diminuição do instinto de preservação. Manifesta-se no físico
através de sinais como aparência desvitalizada, pele frágil e tosse crônica. O
excesso de energia nesse órgão tende a causar angústia, tosse seca, sensação de
ressecamento nas vias aéreas e constipação intestinal.
Como equilibrar o pulmão: o ideal é consumir alimentos de cor
branca e os de sabor picante.
vegetais: agrião, algas, alho, amendoim, bardana,
café, canela, cenoura, chá, espinafre, gengibre, girassol, manjericão, menta,
pepino, pimentão, repolho, soja.
frutos: amêndoa, damasco, banana, caqui, cascas de laranja e de
tangerina, maçã, nozes, pêra, uva.
fontes animais: gema de ovo, leite de vaca, mel, queijo
* FONTE: ALIMENTOS - ASPECTOS
ENERGÉTICOS, YSAO YAMAMURA, EDITORA TRIOM.